quinta-feira, 23 de outubro de 2014

“Tudo passa e o Bem permanece”. Bezerra de Menezes


Pode parecer utopia falar em desapego em uma época em que uma das frases mais pronunciadas é “- E o que eu ganho com isso?”, e onde a troca de interesses impera nos relacionamentos sociais e profissionais, resultando numa sociedade calculista, egoísta e inescrupulosa. As conseqüências dessas atitudes são as desigualdades sociais, a corrupção como regra comum e o individualismo predominante.

O “Bhagavad Gita”1, a “sublime canção da Índia”, há 7.000 anos já tratava do necessário exercício do desapego, trazendo uma proposta de vida que merece reflexão. Expõe a obra que “a auto-realização consiste em trabalhar intensamente e renunciar a cada momento ao fruto do trabalho”. Convida-nos a agir no bem não mais dependendo dos frutos dessa ação, com desinteresse de lucro pessoal, desapegando dos desejos egoísticos.


Desapegar é preservar a alma livre das coisas exteriores, libertando-se das imperfeições e do ódio (e dos impulsos que o geram). O meio mais eficaz de combater o predomínio da natureza corpórea é praticar a abnegação e o desprendimento de si mesmo.4

Quando se propõe o desapego, não é abandonar o “mundo”, mas entender a existência terrena como transitória e impermanente; o que é imortal e verdadeiro é o Espírito. Desconhecendo ou abdicando dessa verdade muitos comprometem a saúde, a família, os amigos e a própria felicidade em busca das conquistas temporárias. Esquecer ou deixar para mais tarde a evolução espiritual, a aquisição das riquezas “que as traças não corroem” em troca dos prazeres e dos tesouros materiais, é marca inegável de apego e imperfeição.

A vida é feita de ciclos. É preciso saber quando uma etapa chega ao final e permitir que ela se encerre. O fim de UM EMPREGO, de um relacionamento, um filho que parte para longe, um amigo que desencarna... A felicidade consiste em se desapegar das coisas, pessoas, situações e sentimentos e permitir que uma nova etapa inicie, assegurando-nos de não ficarmos magoados e nem deixarmos mágoas nos outros. Isso não significa amar menos ou descuidar mas, ao contrário, enquanto o amor liberta e cuida, o apego aprisiona e sufoca.

Allan Kardec5 afirma: “o egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade é a fonte de todas as virtudes. Destruir um e desenvolver a outra, tal deve ser o alvo de todos os esforços do homem, caso queira assegurar a sua felicidade tanto neste mundo quanto no futuro”.

Desapegar-se é deixar de ser egoísta, é estar cada vez mais próximo de si mesmo, de Deus e muito, mas muito mais próximo da felicidade.


Luis Roberto Scholl
1ROHDEN, Huberto. Bagavad Gita, 8 ed. Ed. Alvorada;
2, 3, 4 e 5KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Ed. Comemorativa do Sesquicentenário.
Rio de Janeiro: Federação Espírit

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente neste espaço: